sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Para todo fim um recomeço.

Abandonando essa fase melancólica pessimista, tento, com muito esforço, desenvolver novamente o hábito de escrever depois de uns aninhos escrevendo apenas scraps.
No novo blog a proposta é outra ( só não seja incoveniente para me perguntar qual é) e eu pretendo escrever quase sempre, não apenas sob inspiraç
o. Se, por acaso, alguém passar por aqui, passe lá pra dar sua opnião. Adoro críticas.
Meus cumprimentos.
Eloá Menegocos
Novo endereço: http://eloamenegocos.blogspot.com

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Meu vício.


Eu escrevo porque tento enaltecer minha alma e as paredes da escuridão bloqueiam a luz que, insistente, reluta para encontrar meu corp . Eu deito porque sofro de um mal sem igual, mal que consome meus dias e faz com que minha alma soe minutos sem parar até seu fim. Eu redijo porque comparações me levam a loucura e a essa altura do campeonato meu coração enfartou de soluços. Eu escrevo porque a traição não me rende nada, mas a sua dor me inspira algumas linhas de tortura individual. E a minha vida se vai com elas e por elas como um rio negro que carrega as poucas folhas que lhe caem no percurso. E eu não posso me mexer, não posso gritar porque isso seria ofensa demais aos meus pais. Eu mal posso sair nem dançar sobre o proveito de minha lucidez – isso seria deboche. Não, isso seria ódio, ódio este que eu conto por me sufocar sobre palavras tortuosas e de tanta verdade corroer meus votos de felicidades. Ódio que me diminui a cada dia em que me deparo com os laços da minha própria caminhada. E eu não sou mais eu, apenas alguém encubada sobre uma roupa mais ou menos, sobre efeitos colaterais de seu próprio vício.


PS.: Tá certo, eu sei que essa onda pessimista do meu blog já ta enchendo o saco. É que eu só escrevo quando tô triste, mas vou tentar fazer alguma coisa menos melancólica.

domingo, 22 de março de 2009

Eu posso ter direitos, sim!


Eu tenho direito de ficar triste. Eu tenho direito de ficar mal, não sair do quarto e fazer a minha prece dentro dele. Eu tenho direito de me rebelar, de sair por aí gritando a todos que a minha vida não é tão fácil assim como os imprestáveis gostam de contar. Eu posso sim correr desnorteadamente pela avenida principal seminua mostrando a todos os meus defeitos que se escondem pela calça jeans; mostrar o que me faz uma mulher de verdade em vez de uma boneca de plástico preenchida devidamente, se é que eu posso dizer assim, em cada lugar, pronta para satisfazer os desejos humanos – insensíveis!
Quisera eu surfar sobre aspargos e ainda assim continuar contente. Caso fizesse isso não seria eu. Você conhece alguma outra por aí?
Eu posso sim rejeitar convites, passar horas no computador procurando por uma palavra chave – aquela que dará vida ao meu texto – e ainda assim ser uma pessoa sociável. Posso dedicar-me horas a uma tese, escrever linhas de tesão, jogando palavras ao vento, redigindo bagatelas, é vago. Sem valor. Desprezível. Mas eu posso, eu posso estar em contato e tocar profundamente, mas a sociedade me priva. Sou um ser privado.

domingo, 28 de dezembro de 2008

A FUGA


Dedico esse texto à Priscila Amaco – minha amiga, prima e companheira que eu tive o prazer de reencontrar ontem em uma conversa de botas batidas.
É engraçado como o tempo molda as pessoas, ou as pessoas se moldam no tempo, de uma forma tão perfeita que sempre há um resquício, uma característica que nunca será removida por qualquer agente – no caso da minha prima, a tagarelice. – e isso faz de nós seres reconhecíveis sempre, se pelo menos uma vez, conhecidos ao profundo.
Te amo muito prima!


O coração pulsava normalmente e o corpo gélido mantinha-se vivo. A pele clara salientava as veias esverdeadas e azuladas de seu rosto seco – o nervosismo passara longe dali.
Por muito tempo viveu apática aos fluxos sentimentais e forças externas que por ela passaram. Era um ser tão indiferente consigo mesmo que se fazia diferente em meio social até o dia - trágico dia - que sua felicidade fora devolvida. A primeira reação foi de dor. A segunda de impaciência. Suas veias pareciam desejar pular epiderme afora, mas sua insensibilidade a fazia contorcer os próprios órgãos, promovendo uma sensação remota de vômito. As mãos se esfregavam com medo de sentir e o espírito livrava-se da dor da verdade enquanto ela conhecia as delicias do desejo proibido. Seu corpo suava e seu vomito recolhia-se de forma discreta, cedendo espaço a libertinagem – pela primeira vez ela sabia o que era satisfação. Sua preocupação não era com toda aquela exposição e sim com retração que tornara sua vida óbvia e dura; ela precisava abandonar os conceitos e lançar-se ao esgoto que era tudo aquilo, Mas foi covarde. Esqueceu dos desejos, lembrando-se da proibição. Lambeu os lábios e largou, junto com a salinha escura de cinema, a sua felicidade, tardia, mas ainda felicidade.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

ABORTO


Eu habitava meu mundo sozinho e inquestionável. Ora emocional, ora de acordo com o próprio conhecimento. Eu tinha a oportunidade de agir segundo as minhas próprias ondas, então parava. Eu encolhia diante da proibição do meu próprio ser e respeitava, mais que tudo, eu. Eu, pequena, estável até o momento em que entrei em contato, excedi meu temor, escorreguei em direção ao vulgo e, parcialmente, abandonei minha alma egoísta. Passei por pessoas, ouvi sons diferentes, me socializei. Absorvia mais do que conjecturava, seguia mais do que sentia. Eu estava sendo levada, e varrida em direção ao meu fim individual; mas algo pressionava minha cabeça, cerrava meus pés e esmagava meu coração, não havia mais alma, se foi minha vida.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

ROSA CHÁ


Dedico este texto à Míryan Paranhos.


Seus olhos tão afortunados, diamantes rigorosamente lapidados eram alvo de meu total desejo. Eu não teria medo de me entregar aos seus extintos. Tão leve e tão afável, por uma tarde eu a diria todas as coisas com que havia sonhado na noite em que estremeci de medo. Meus dedos sentiriam o calor de seu corpo, meus lábios lhe dariam o doce gosto da lucidez. Eu me sentia desnecessariamente intocável até o momento em que a vi decolar de sua fase mais inocente e idiota. Seu jeans maravilhosamente desgastado pelo tempo censurava o meu olhar. Limitava a minha mente de imaginar coisas absurdas e promíscuas. Eu a encontrei, e por nada a largaria pela rua. Era raro demais pra deixar pra trás. Eu a amava e queria liqüidar meu adversário, mas antes, levá-la ao ápice da loucura, ao ponto de fazê-la desistir de lutar por sua própria vida. Eu queria mais, muito mais que um corpo frio. Antes um cadáver gélido do que uma alma vivente fria. E por fim eu descobri que eu era nada mais, nada menos do que um serial killer apaixonado.


domingo, 30 de novembro de 2008

MEIO FIO


Sentada no meio fio com sua garrafinha de água mineral quase vazia, ela desenhava na poeira da rua com um graveto que achara na calçada mesmo. Não se permitia desenhar nada além de uma casa velha e umas poucas flores, retrato de tudo o que ela precisava naquele momento. Parecia não se lembrar do que a fez sair de casa com trocados achados na carteira de seu padrasto. A impressão era de que a vida havia sido um pouco cruel com aquela jovem, uma pessoa aparentemente boa e inofensiva, mas cuja alma guardava um segredo imoral. Na limítrofe entre a aparência e a verdade existia perigo, perigo mesmo. Perigo que consumia o restante de sua água e rasgava-lhe os jeans, fazendo-a suar e gritar por socorro. Ela ainda estava só.
Uma mulher de cabelos vermelhos e olhar entristecido pela vida se aproximou com cautela e sentou no meio-fio. Com um pequeno pedaço de papel reciclado que enxugava o rosto cansado. Ela ofereceu uma cachaça, estendeu-lhe a mão e, com o rosto ainda resistente, a jovem encostou a testa em suas pernas longas agora encolhidas, balançando-se para frente e para trás como quem tenta convencer-se de algo absurdo. Tentou dizer um não - Tinha consciência do que viria depois daquela ajuda -, queria poupar-se das lembranças da vida imoral que decidira esquecer ao abandonar o que chamava de recanto desarmônico. Inconformada, a mulher chutou-lhe a bunda e derramou a cachaça sobre os poucos cabelos que restavam daquela menina. Foi embora deixando o vidro vazio que foi preenchido pelo grito de alguém que lutava incansavelmente pela própria reputação. Mas quem haveria de enxergar? Haveria expectadores para observar a sua vida acabada? A quem ela estava querendo mostrar o que? Ela parecia ingênua e isso bastava. Então segurou a garrafa de cachaça que a mulher havia deixado, correu desesperadamente até alcançá-la e, em um delírio eloqüente, tacou a garrafa em suas costas. Enquanto a mulher gritava de dor e apoiava-se no chão, ela ria descontroladamente até sentir-se suficientemente má para voltar a sua imoralidade.