Sentada no meio fio com sua garrafinha de água mineral quase vazia, ela desenhava na poeira da rua com um graveto que achara na calçada mesmo. Não se permitia desenhar nada além de uma casa velha e umas poucas flores, retrato de tudo o que ela precisava naquele momento. Parecia não se lembrar do que a fez sair de casa com trocados achados na carteira de seu padrasto. A impressão era de que a vida havia sido um pouco cruel com aquela jovem, uma pessoa aparentemente boa e inofensiva, mas cuja alma guardava um segredo imoral. Na limítrofe entre a aparência e a verdade existia perigo, perigo mesmo. Perigo que consumia o restante de sua água e rasgava-lhe os jeans, fazendo-a suar e gritar por socorro. Ela ainda estava só.
Uma mulher de cabelos vermelhos e olhar entristecido pela vida se aproximou com cautela e sentou no meio-fio. Com um pequeno pedaço de papel reciclado que enxugava o rosto cansado. Ela ofereceu uma cachaça, estendeu-lhe a mão e, com o rosto ainda resistente, a jovem encostou a testa em suas pernas longas agora encolhidas, balançando-se para frente e para trás como quem tenta convencer-se de algo absurdo. Tentou dizer um não - Tinha consciência do que viria depois daquela ajuda -, queria poupar-se das lembranças da vida imoral que decidira esquecer ao abandonar o que chamava de recanto desarmônico. Inconformada, a mulher chutou-lhe a bunda e derramou a cachaça sobre os poucos cabelos que restavam daquela menina. Foi embora deixando o vidro vazio que foi preenchido pelo grito de alguém que lutava incansavelmente pela própria reputação. Mas quem haveria de enxergar? Haveria expectadores para observar a sua vida acabada? A quem ela estava querendo mostrar o que? Ela parecia ingênua e isso bastava. Então segurou a garrafa de cachaça que a mulher havia deixado, correu desesperadamente até alcançá-la e, em um delírio eloqüente, tacou a garrafa em suas costas. Enquanto a mulher gritava de dor e apoiava-se no chão, ela ria descontroladamente até sentir-se suficientemente má para voltar a sua imoralidade.
Uma mulher de cabelos vermelhos e olhar entristecido pela vida se aproximou com cautela e sentou no meio-fio. Com um pequeno pedaço de papel reciclado que enxugava o rosto cansado. Ela ofereceu uma cachaça, estendeu-lhe a mão e, com o rosto ainda resistente, a jovem encostou a testa em suas pernas longas agora encolhidas, balançando-se para frente e para trás como quem tenta convencer-se de algo absurdo. Tentou dizer um não - Tinha consciência do que viria depois daquela ajuda -, queria poupar-se das lembranças da vida imoral que decidira esquecer ao abandonar o que chamava de recanto desarmônico. Inconformada, a mulher chutou-lhe a bunda e derramou a cachaça sobre os poucos cabelos que restavam daquela menina. Foi embora deixando o vidro vazio que foi preenchido pelo grito de alguém que lutava incansavelmente pela própria reputação. Mas quem haveria de enxergar? Haveria expectadores para observar a sua vida acabada? A quem ela estava querendo mostrar o que? Ela parecia ingênua e isso bastava. Então segurou a garrafa de cachaça que a mulher havia deixado, correu desesperadamente até alcançá-la e, em um delírio eloqüente, tacou a garrafa em suas costas. Enquanto a mulher gritava de dor e apoiava-se no chão, ela ria descontroladamente até sentir-se suficientemente má para voltar a sua imoralidade.